sexta-feira, 23 de abril de 2010

Olho e nitidez



Muito da qualidade visual de uma fotografia está relacionada com a nitidez com que os detalhes são apresentados na foto. Não tem relação com a definição em si, mas sim como o nosso olho entende e resolve os micro contrastes.

Na fotoquímica o filme já tinha um efeito especial de nitidez garantido pelo grão de prata ou pelo “blob” de pigmento das películas coloridas. Este efeito é chamado de acutância, é uma espécie de sombra na borda do grão que faz com que os detalhes pareçam mais nítidos ao nosso olho.

Em digital a acutância é garantida por um efeito especial aplicado por algoritmos computacionais, normalmente chamados de filtros de “sharpness”. Estes filtros localizam as bordas da imagem e aplicam uma melhoria de contraste. Se você encostar um quadrado escuro ao lado de um claro, vai ver um efeito visual interessante. Na junção a parte clara parece mais escura e a parte escura parece mais clara. O tal filtro de “sharpness” deixa a borda escura mais escura e a clara mais clara. Os parâmetros de controle deste tipo de filtro são o tamanho da borda a ser melhorada (radius), e quanto de aumento de contraste é aplicado(amount).

A foto digital em geral usa um sensor onde apenas uma cor é vista por cada pixel, é chamado de “bayer array”. Para uma imagem colorida precisamos de três cores, vermelho, verde e azul. Como cada pixel do sensor só vê uma cor, as outras duas são adivinhadas por um programinha que faz uma média baseado nos outros pixels de cor ao redor. Assim o pixel vermelho, vai ter o verde e o azul “adivinhados”. Isto faz com que a imagem fique de certa forma lavada, pois o valor é a média do entorno quando na realidade, as transições de contraste são abruptas.

Para tentar consertar o problema do bayer a ferramenta de sharpness é fundamental para simular uma nitidez perdida pela foto digital. O efeito é diretamente proporcional à unidade da imagem, se uma imagem grande é reduzida o efeito é perdido. O shapness só funciona na imagem vista no seu tamanho real, portanto para cada mudança de tamanho ele deve ser refeito, para que a foto tenha a ilusão de nitidez.

Para complicar um pouco, cada tipo de imagem precisa de um “sharpness” diferente. Um retrato precisa de um radius maior e menos amount, se mal aplicado vai destacar cada diferença na pele, deixando a pessoa horrível e artificialmente montruosa. Em paisagens é preciso um radius menor e um amount maior, para fazer os pequenos detalhes saltarem aos olhos. Só o olho treinado é capaz de aplicar o “sharpness” corretamente, será diferente para cada foto. Por este motivo é importante que o fotógrafo tome estas ações em sua mão em vez de deixar que a câmera as faça automaticamente.

sábado, 17 de abril de 2010

Selecionar ou não selecionar?

Vou reformular: o quanto selecionar? (selecionar é quase obrigatório!)

Sim, você tira fotos ruins. Todos tiramos. É parte do processo de aprendizado, do processo experimental. Robert Capa, Ansel Adams, Cartier-Bresson tiravam fotos ruins também. Onde elas estão? Ou no lixo ou em algum arquivo pessoal bem fechado. Talvez você já tenha visto uma delas - você se lembra disso, ou a memória guarda somente as boas?

O Alê diz que os melhores fotógrafos são os que tem a lixeira mais recheada...

O que é uma foto ruim? Ou melhor, que fotos devem ser descartadas? Critérios são vagos, e puramente pessoais. Seguem alguns que costumo usar:
  • O mais fácil é a perfeição técnica: fotos fora de foco, super ou subexpostas, etc. caem fora. No entanto, apesar de este ser o critério mais imediatamente lembrado, é o mais frequentemente desprezado - e com razão! Uma foto que mostra o "momento decisivo" (Bresson), mesmo fora de foco ou mal exposta, é das que ganham o olhar e o coração. Algumas das grandes fotos já tiradas tem alguma imperfeição técnica.
  • Fotos desinteressantes caem fora. O que a foto mostra? Nada? Descartada.
  • Fotos que só tem interesse pro fotógrafo. Essas são difíceis de descartar, porque sentimos um apego emocional a elas. Guarde-as pra você mesmo ou pra mostrar às poucas pessoas que podem compartilhar seus motivos.
  • Fotos boas, mas que mostram o mesmo que fotos melhores.
  • Fotos boas, mas em número muito grande. Ninguém vai querer ver suas 500 fotos boas de uma viagem de um mês, nem ver 500 fotos de seu casamento, acredite.
  • Fotos que tem que ser explicadas. Uma imagem vale mais que mil palavras, assim, se você tem que acrescentar dez ou vinte palavras à imagem, quer dizer que falta algo a ela.
Mostrar duas fotos daquelas que provocam um "UAU!" tem esse efeito mesmo. Colocar essas duas junto a 98 boazinhas dilui o efeito - as cem serão vistas rapidamente e superficialmente, e as duas melhores vão passar quase despercebidas...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Olho e cores



Enquanto alguns aspectos da fotografia se tornaram mais simples no mundo digital, outros ficaram mais complicados. É nas cores que o novato iniciante no digital mais peca. Na era da fotoquímica as escolhas eram limitadas, as cores eram determinadas pelo tipo de filme, para fotos submarinas usava o Kodak SW, macros e paisagens da natureza o Fuji velvia, uso geral o provia e efeitos alienígenas o Kodak VS. Cada filme tinha suas próprias características de cor, que eram balanceadas pelos fabricantes e dependentes dos pigmentos que estavam presentes na emulsão.
As possibilidades de escolha eram limitadas e simples, não representando a natureza.

Ao mesmo tempo em que o fotógrafo P&B aprende a olhar uma cena em preto e branco acostumávamos a olhar uma cena com os olhos do filme, já imaginando como um céu azul iria renderizar em um Kodak EPP.

No reino digital o balanço das cores é livre, extremamente dependente da pós produção, seja ela feita automaticamente pela câmera ou manualmente pelo fotógrafo. É exatamente aí que as coisas complicam, para se conseguir uma boa combinação de cores o fotógrafo deve ter o olho treinado.

O que separa a fotografia de outras artes é sua ilusão de realidade, absolutamente imbatível. Por mais que um Caravaggio moderno tenha habilidades de pintura heróicas, nos dias atuais sua maestria seria obscurecida pela simplicidade com que a fotografia executa a mesma tarefa sem esforço, dependendo de baixíssima habilidade do operador da máquina. É neste ponto que colocamos uma linha divisória entre fotografia e design gráfico, onde a fotografia e sua ilusão são ao fotógrafo um fim em si, enquanto ao designer a foto é mero substrato para a realização de sua arte.

Tratando a fotografia de uma ilusão o mais próxima possível da realidade, como podemos aguçar o nosso olho para que no momento que estivermos em frente à tela do computador possamos refinar estes valores na pós produção?

A resposta é simples, observando atentamente a natureza da mesma forma cuidadosa que observamos uma fotografia. Percebemos se a imagem está em foco, a saturação de cores, os micro contrastes, a faixa dinâmica, a relação entre as cores e muito mais.

Observe a pleno sol como as cores são saturadas, como se dá a transição entre cores próximas(micro contrastes), existem pontos brancos estourados? Como se comportam as sombras profundas quando estamos no sol? Olhe com atenção, memorize os detalhes, da mesma maneira que analisa uma fotografia.

Agora observe uma cena na sombra, como é a saturação de cores? É diferente do sol de meio dia e do sol do começo da manhã? E os detalhes da imagem? São diferentes? Existe algum tom predominante?

Como se comporta uma cena noturna?

O nosso olho se adapta ao que está vendo automaticamente, em nosso cérebro juntamos as várias imagens de modo que enxergamos mais do que o próprio olho vê. Com um pouco de atenção podemos desacostumar e ver que existe uma predominância de amarelo em cenas ao sol e uma de azul em cenas à sombra. Um artifício que pode ajudar a treinar o olho é usar uma moldura branca ou preta para isolar o que estamos vendo, como se fosse uma fotografia emoldurada.

É um exercício simples que vai garantir o treino do olhar, que de outra maneira, levaria anos de prática. Traduzir estes conceitos para o seu programa de pós produção vai exigir conhecimento profundo do mesmo, mas sem este conhecimento usar o programa vai carecer de um objetivo, um ponto a atingir para realizar a sua visão fotográfica.

Não vou me estender ao uso dos programas, uma vez que a internet já está bem recheada de boas dicas de uso dos principais. Tenha em mente seu objetivo na fotografia, o aprendizado e mestria de tais programas ficará mais simples, descubra as ferramentas e como usar para atingir o seu objetivo. Igualar a fotografia com sua visão da realidade.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Você confia na memória?

E na memória de sua câmera?

Quantos gigabytes tem no seu cartão? Aposto que uma boa parte dos fotógrafos sabe isso de cabeça, talvez uma boa parte saiba mais ou menos quantas fotos cabem nele.


Mas você sabe qual é a velocidade de seu cartão de memória?

Parece que isso é negligenciado por muitos, mesmo bons fotógrafos. E, a meu ver, é um ponto importantíssimo de seu equipamento. Veja algumas vantagens de um cartão com maior velocidade:
  • Menor tempo de resposta da câmera entre uma foto e outra (sabe quando a câmera fica com uma luzinha piscando, pra você esperar até ela se preparar pra próxima foto, e enquanto isso as oportunidades vão passando?);
  • Menor tempo de resposta pra revisar as fotos na câmera;
  • Menos tempo pra baixar suas fotos no computador;
  • Maior número de fotos tiradas continuamente (dependendo da câmera usada; em algumas delas a velocidade do cartão não importa).
Normalmente, as velocidades de leitura e gravação de dados são diferentes, e bem diferentes; a de leitura costuma ser maior. No meu ponto de vista, a mais crítica é a velocidade de gravação; ela é que vai lhe ajudar a tirar fotografias mais rapidamente (a primeira bolinha da lista acima).

Isso também é válido pra pen drives, ou flash drives, etc. Quanto maior a velocidade, menor o tempo pra gravar e ler seus dados.

E como saber a velocidade de sua memória? Bem, você pode acreditar na palavra do fabricante (ou do vendedor), de terceiros (talvez você esteja acreditando na minha, agora) ou fazer o teste por conta própria. Eu estou usando um programinha gratuito chamado Check Flash 1.11 (baixe diretamente do desenvolvedor, http://www.brothersoft.com/publisher/cherkes-mihail.html). O programa testa a velocidade de leitura (R) e a de gravação (W) dos dados; um teste simples com 4GB leva uns 25 minutos (menos para cartões mais rápidos ou com menos memória).

Veja os resultados de algumas memórias:

Cartões SD e SDHC

PNY 2GB SD (E)
R 13.370 MB/s; W 6.122 MB/s


Transcend SDHC 16GB, class 6 (E)
R 8.564 MB/s; W 6.014 MB/s

Kingston SDHC 32GB, class 4 (E)
R 10.769 MB/s; W 5.338 MB/s

Super Talent SDHC 32GB (E)
R 8.921 MB/s; W 4.978 MB/s

Integral SDHC 4GB, class 4 (E)
R 24.581 MB/s; W 3.859 MB/s

Canon SD 16MB (C)
R 45.413 MB/s; W 1.909 MB/s

Kingston SD 512MB (I)
R 7.893 MB/s; W 1.050 MB/s

Pen Drives

Kingston DT Mini Slim 4GB (E)
R 49.817 MB/s; W 6.405 MB/s


Sandisk Cruzer micro8GB (E)
R 35.036 MB/s; W 6.268 MB/s

Kingston Datatraveller 8GB (I)
R 9.355 MB/s; W 1.886 MB/s

Kingston Datatraveller 2GB (F) amarelo
R 18.788 MB/s; W 1.764 MB/s

Kingston Datatraveller DTI/2GB (E) verde
R 14.131 MB/s; W 1.305 MB/s

A diferença é enorme, não? Imagine que a sua câmera, pra gravar uma foto de 5MB, irá levar uns 4,8 segundos no cartão SD mais lento, e só 0,8 segundos no mais rápido... Imagine o que você pode fotografar nesses quatro segundos de diferença!

As memórias marcadas com (E) acima foram compradas nos EUA, as marcadas com (I) foram compradas na Santa Ifigênia, em SP, a marcada com (F) foi comprada em Fortaleza, a marcada com (C) veio junto com uma câmera Canon. Dá pra ver um padrão (*)?

Memórias compradas nos EUA e em SP parecem ter velocidades bem distintas, o que me sugere que várias que encontramos em SP são de "segunda linha" ou pior, falsificações. Cuidado com as marcas mais famosas, porque essas são as mais falsificadas!

Lembrando o título deste post, a confiabilidade também varia. Cartões de memória infelizmente também podem apresentar falhas, o que significa que os dados contidos neles podem ser perdidos. Cartões baratos ou velhos costumam dar mais problemas que cartões de boa marca e novos.

E então, você confia na memória?

------------------------

Já pra filmagem diretamente em cartão de memória (câmeras fotográficas ou filmadoras), a velocidade tem efeito limitante, mas não quantitativo: a câmera precisa de uma taxa de transferência constante, sem falhas, dependendo da qualidade da filmagem (resolução, compressão, quadros por segundo, qualidade do som, etc.); se o cartão atinge o mínimo, ele funciona. Por outro lado, pra baixar seus filmes para o computador, quanto mais rápido melhor!

------------------------

(*) Claro que os preços também foram bem diferentes! Se a velocidade não importa muito pra você, melhor pro seu bolso - significa que pode pagar menos pelos mesmos GB...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Go Digital

Ao contrário do G que foi pioneiro, eu demorei bastante para ter uma câmera digital, as primeiras versões de apenas 1 mega pixel nunca conseguiram me empolgar e minha olympus 35sp ainda tinha presença constante na mochila para um eventual snapshot. Os megapixels foram aumentando mas a foto digital não me pegou, foi por acidente que ganhei no natal 2008 de minha irmã uma simples Canon A580 com 8 megapixels.

Uma vez que já tinha a câmera em mãos, por que não testar? Esta câmera é automática, e demorei um pouco para entender como o diacho do programa funcionava e assim aprender a mentir para que a câmera me desse o que eu queria e não o que ela queria. Como o foco é eletrônico ele entra no cálculo da exposição, assim em grande angular tende a usar velocidades mais baixas e lente mais fechada, o que é um contra-senso uma vez que a profundidade de campo destes sensores diminutos é monstruosa.

Meio que domado o famigerado automático, consegui ter maior controle sobre o resultado, mesmo assim ainda faltava muito para as fotos digitais sequer arranharem o filme.

Ai, lembrei algo que o próprio G me falou, foto digital PRECISA ser tratada. Os contrastes, a nitidez e as cores do digital deixam muito a desejar. É necessário um programa de pós produção como o temível Photoshop, programa este que não me era estranho, pois fotos analógicas ao serem escaneadas precisam do mesmo tipo de trabalho.

Aí sim, as fotos começaram a se parecer com alguma coisa divertida, animado com o que obtive com a pequena A580 fiquei imaginando como seria uma Canon 40D, uma câmera que custa quase 15 vezes o preço da pequenina. Ao colocar as mãos no monstro a primeira coisa que fiz foi fazer fotos com ela e a 580 para comparar, se uma câmera pequena e barata conseguia tão bons resultados imagine o quão melhor seria a grande!

Decepção total! Apesar da 40D ser 2:3 que prefiro em vez de 3:4 da pequena e ter 10 mega pixels, a diferença na imagem é absolutamente minúscula em ISO100. Em ISO 200 a diferença já é maior, mas o ISO200 da 40D era pior que o ISO100 da 580, como sempre usei filme100ASA, ISOs altos nunca me importaram e não fazem a menor diferença.

Moral da história, se você quer começar a fotografar, pode muito bem comprar uma câmera simples compacta e que tenha comandos manuais, sem se preocupar com a qualidade da imagem em teoria “superior” de DSLRs. Iniciantes tendem a achar que o único jeito de aprender a fotografar é com estas câmeras mais caras. Grande bobagem! Qualquer câmera compacta que lhe permita controlar abertura e velocidade de forma independente pode lhe dar excelentes resultados. Quem fará a diferença é você!