quinta-feira, 15 de abril de 2010

Olho e cores



Enquanto alguns aspectos da fotografia se tornaram mais simples no mundo digital, outros ficaram mais complicados. É nas cores que o novato iniciante no digital mais peca. Na era da fotoquímica as escolhas eram limitadas, as cores eram determinadas pelo tipo de filme, para fotos submarinas usava o Kodak SW, macros e paisagens da natureza o Fuji velvia, uso geral o provia e efeitos alienígenas o Kodak VS. Cada filme tinha suas próprias características de cor, que eram balanceadas pelos fabricantes e dependentes dos pigmentos que estavam presentes na emulsão.
As possibilidades de escolha eram limitadas e simples, não representando a natureza.

Ao mesmo tempo em que o fotógrafo P&B aprende a olhar uma cena em preto e branco acostumávamos a olhar uma cena com os olhos do filme, já imaginando como um céu azul iria renderizar em um Kodak EPP.

No reino digital o balanço das cores é livre, extremamente dependente da pós produção, seja ela feita automaticamente pela câmera ou manualmente pelo fotógrafo. É exatamente aí que as coisas complicam, para se conseguir uma boa combinação de cores o fotógrafo deve ter o olho treinado.

O que separa a fotografia de outras artes é sua ilusão de realidade, absolutamente imbatível. Por mais que um Caravaggio moderno tenha habilidades de pintura heróicas, nos dias atuais sua maestria seria obscurecida pela simplicidade com que a fotografia executa a mesma tarefa sem esforço, dependendo de baixíssima habilidade do operador da máquina. É neste ponto que colocamos uma linha divisória entre fotografia e design gráfico, onde a fotografia e sua ilusão são ao fotógrafo um fim em si, enquanto ao designer a foto é mero substrato para a realização de sua arte.

Tratando a fotografia de uma ilusão o mais próxima possível da realidade, como podemos aguçar o nosso olho para que no momento que estivermos em frente à tela do computador possamos refinar estes valores na pós produção?

A resposta é simples, observando atentamente a natureza da mesma forma cuidadosa que observamos uma fotografia. Percebemos se a imagem está em foco, a saturação de cores, os micro contrastes, a faixa dinâmica, a relação entre as cores e muito mais.

Observe a pleno sol como as cores são saturadas, como se dá a transição entre cores próximas(micro contrastes), existem pontos brancos estourados? Como se comportam as sombras profundas quando estamos no sol? Olhe com atenção, memorize os detalhes, da mesma maneira que analisa uma fotografia.

Agora observe uma cena na sombra, como é a saturação de cores? É diferente do sol de meio dia e do sol do começo da manhã? E os detalhes da imagem? São diferentes? Existe algum tom predominante?

Como se comporta uma cena noturna?

O nosso olho se adapta ao que está vendo automaticamente, em nosso cérebro juntamos as várias imagens de modo que enxergamos mais do que o próprio olho vê. Com um pouco de atenção podemos desacostumar e ver que existe uma predominância de amarelo em cenas ao sol e uma de azul em cenas à sombra. Um artifício que pode ajudar a treinar o olho é usar uma moldura branca ou preta para isolar o que estamos vendo, como se fosse uma fotografia emoldurada.

É um exercício simples que vai garantir o treino do olhar, que de outra maneira, levaria anos de prática. Traduzir estes conceitos para o seu programa de pós produção vai exigir conhecimento profundo do mesmo, mas sem este conhecimento usar o programa vai carecer de um objetivo, um ponto a atingir para realizar a sua visão fotográfica.

Não vou me estender ao uso dos programas, uma vez que a internet já está bem recheada de boas dicas de uso dos principais. Tenha em mente seu objetivo na fotografia, o aprendizado e mestria de tais programas ficará mais simples, descubra as ferramentas e como usar para atingir o seu objetivo. Igualar a fotografia com sua visão da realidade.

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